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quinta-feira, 12 de maio de 2011

Anna Karénina, de Lev Tolstói



“Todas as famílias felizes se parecem umas com as outras, cada família infeliz é infeliz à sua maneira”.

É com esta famosa citação, uma das mais célebres da literatura mundial, que Lev Tolstói inicia aquele que é talvez um dos melhores e mais bem elaborados romances de sempre, Anna Karénina, publicado inicialmente entre 1873 e 1877. A história tem como cenário principal a Rússia czarista, baseando-se na sociedade aristocrata da segunda metade do século XIX. Através de uma escrita fluida, e ao longo de mais de 800 páginas repletas de uma vasta quantidade de descrições realistas e minuciosas, o autor relata-nos a história de Anna Karénina, uma mulher benevolente, misteriosa e possuidora de uma beleza invulgar, casada com um homem rico que se integra no mais alto e nobre círculo social. A única verdadeira felicidade de Anna é o filho, o qual estima com uma profundidade e uma paixão quase etéreas. Contudo, é apenas quando se cruza com o conde Vronski, um jovem homem magnânimo, que encontra realmente a felicidade, vivendo a partir daí um romance adúltero e fatalista durante mais de quatro anos ao longo dos quais a sua própria condição psicológica se vai deteriorando em consequência da condenação do seu amor adúltero pela sociedade hipócrita, o que a leva posteriormente ao suicídio. A par da história de Anna é-nos apresentada também a personagem de Lévin, um humilde latifundiário que se questiona sobre a condição humana a que está inevitavelmente confinado e procura com ardor o sentido da vida. Lévin também tenta o suicídio, mas acaba por constatar que devemos viver por Deus e para Deus, fomentando a própria felicidade apesar de todos os problemas e de todas as contradições, em contraste com Anna que, pouco antes de morrer, chega à conclusão de que todos estamos condenados a odiarmo-nos irrevogavelmente.

Todavia, não é decerto esta contradição de ideias que realmente constitui o fulcro essencial do romance. Anna Karénina é, sobretudo, um retrato da sociedade aristocrata fútil e desprovida de interesses da época, uma condenação do amor carnal e impulsivo e também uma forma que o autor encontrou de exprimir as suas filosofias e ideais acerca de inúmeros temas intemporais, como a agricultura e a guerra.

Não é um mero romance de amor, como possa eventualmente parecer à primeira vista. É um romance que tem de ser lido e vivido com intensidade, onde as personagens vivem, amam, choram, desesperam, morrem, despertam. É um livro imortal que não só se adequa à época em que foi escrito mas também à nossa realidade actual, ocupando na literatura uma importante posição de transição entre o Realismo e o Modernismo.

A sua leitura despertou em mim uma torrente infindável de emoções, uma convergência de sentimentos anteriormente desconhecidos que permanecem vivos e enraizados no meu interior e que o permanecerão para sempre. Ensinou-me sobretudo uma importante lição de vida que com toda a certeza não esquecerei. 
Salvador Bodião, 8ºE

3 comentários:

  1. Tenho a certeza de que o blog ficou ainda mais rico. Esta nota de leitura está escrita de uma forma excelente e com um vocabulário extraordinário. Não li o livro mas tenho a certeza que captaste a sua essência e beleza, Salvador.

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  2. Joubert disse que "O grande inconveniente dos livros novos é o de nos impedirem de ler os livros antigos.", mas esse não é, definitivamente, o seu caso. Excelente nota de leitura, revelando, também, maturidade a nível da escrita. Parabéns.

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  3. Parabéns Salvador.

    Ass: Rita 8ºE

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